Abdon Barretto Filho - Economista Diretor da Rede Plaza de Hotéis
As pessoas físicas e jurídicas que procuram qualificação contínua na busca do zero defeito podem utilizar a Teoria da Janela Quebrada para evitarem surpresas desagradáveis. Na realidade, a experiência realizada na cidade de Nova Iorque, no século passado, ainda pode ser utilizada como um bom exemplo, pois a partir da falta da compreensão com os pequenos problemas eles podem ser transformados em grandes e incontroláveis.
A experiência foi realizada utilizando-se de um veículo que foi abandonado em determinado local considerado perigoso na cidade. Após uma semana de abandono, os pesquisadores foram até o local e observaram que o carro estava sujo, com alguns arranhões, porém, em condições de utilização. Repetiram a experiência em outra semana, agora com um veículo com uma janela quebrada. Ao retornarem ao local, observaram que indivíduos, de alguma forma, tiveram acesso ao interior do veículo, roubaram os equipamentos, os bancos, tapetes, entre outros itens. Externamente, desmontaram as portas e as rodas.
Os pesquisadores concluíram que os detalhes fazem as diferenças. Reconheceram que a janela quebrada pode ter sido o início de uma série de comportamentos para aproveitamento do abandono e do aproveitamento da situação. Para muitos, a falta de cuidado com os detalhes é o grande gerador da falta de qualidade nas ações e reações do comportamento humano.
A economia, como ciência da escassez, ajuda a compreender os detalhes de um fenômeno no mercado. Seja um detalhe na oferta ou na demanda. Mais ainda quando reconhece as variáveis incontroláveis e seus impactos nas trocas. O clima, a tecnologia, a legislação e a política, entre outros aspectos, são construídos de detalhes e requerem dedicação para entendê-los corretamente. Porém, deve-se reconhecer que os problemas sempre são iniciados individualmente. Depois, são apoiados por grupos.
Quando alguém comete um delito e não recebe a devida correção, tende a repeti-lo e, comprovadamente, aumentá-lo. Sendo assim, a tolerância zero é lembrada para que se mantenha a ordem. A opinião pública começa com uma opinião individual divulgada através dos meios de comunicação. Será? É obvio que a liderança existe para o bem ou para o mal. E, salvo melhor juízo, para muitos os detalhes que podem assustar alguns são aceitos com normalidade por outros. Depende da formação individual e do grupo que faz parte. Entretanto, a civilização, a cultura, a ética, a legislação, entre outras conquistas da humanidade, limitam o exercício do poder.
Nós, pagadores de impostos e eleitores, ficamos indignados com a quantidade de escândalos que são noticiados, apresentando detalhes dos desvios dos recursos públicos, desde as emissões de bilhetes aéreos até as obras faraônicas.
Até quando? Será que estão deixando janelas quebradas?