sexta-feira, 3 de junho de 2011

"Acredito no líder educador".

À frente da Fundação Odebrecht, o empresário Norberto Odebrecht, 90 anos, diz que é tarefa indelegável do gestor dar tempo, presença, experiência e exemplo ao liderado.
O engenheiro Norberto Odebrecht é bisneto de um luterano alemão que desembarcou no Brasil em 1856. Pernambucano radicado na Bahia, aos 21 anos assumiu a construtora paterna e a transformou em um conglomerado que chega à quarta geração como o 12º maior grupo brasileiro, segundo o anuário do jornal Valor Econômico, com 120 mil funcionários e receita de R$ 38 bilhões (em 2009). É autor de uma obra de gestão com 1,2 mil páginas.

- Desde cedo, percebi a diferença entre a formação que recebia em casa e aquela de vários colegas, pertencentes a famílias tradicionais da Bahia. Eles achavam que tinham vindo ao mundo para serem servidos e não para servir. Quando colaboro com um projeto social, estou simplesmente praticando o espírito de servir que aprendi muito cedo.
- O amor à natureza e a habilidade de percebê-la em todos os lugares me foram transmitidos por meus pais e meu preceptor. Isso me ensinou a buscar sempre na mãe natureza os fundamentos orientadores de todas as minhas decisões.
- A habitual disciplina me motiva a chegar cedo (6h45) na fundação e, no horário de almoço (12h30), faço minha dieta em casa, retornando às 14h30. Retiro-me às 17 horas para minhas “compulsórias” aulas de ginástica quatro vezes por semana. Fora dessa rotina, de três a quatro vezes ao mês viajo ao Baixo Sul da Bahia, onde a Fundação Odebrecht apoia projetos sociais e ambientais. Às vezes, vou para acompanhar visitantes interessados em conhecer nosso programa naquela região, às vezes para reuniões educacionais.
- Nosso desafio é tornar próspera e dinâmica uma área rural estagnada, com grande patrimônio ambiental, fixando os jovens de talento no campo a fim de evitar a migração desnecessária para as capitais. Na busca da reversão desse quadro, não adiantava levar apenas educação de qualidade. Era necessário conservar a Mata Atlântica. Também era necessário oferecer oportunidades de trabalho digno e distribuição de renda justa, fortalecendo as redes sociais locais.
- Acredito no líder educador. Ele tem o dever de transmitir conhecimento às sucessivas gerações de empresários e executivos para que sejam capazes de assumir novos cargos e responsabilidades. É o que chamamos de delegação planejada. É tarefa indelegável do líder dar tempo, presença, experiência e exemplo. O liderado precisa ser apoiado pelo líder.
- Aplico a delegação planejada, pois toda delegação é sinônimo de confiança recíproca. Porém, ela só tem sentido quando planejada pela via do diálogo constante, da negociação e do acordo, uma vez que é necessário que líderes e liderados confiem, na medida certa, um no outro, ao mesmo tempo.
- O que justifica a função social do empresário é sua capacidade de coordenar e integrar a produção de riquezas, na medida em que transforma, continuamente, sua iniciativa e criatividade, e a dos integrantes de sua equipe, em inovações (mudanças), e estas em resultados sempre melhores e maiores para todos e para o todo.
- Entendo que não basta doar recursos financeiros. É preciso transmitir conhecimento aos beneficiários. Do contrário, corre-se o risco de tornar o projeto um modelo assistencialista e que não promove o crescimento sustentável dos seres humanos.
[Karla Spotorno - Época Negócios]

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